ESCOVÓDROMOS, PROJETOS EM SAÚDE BUCAL

 

PREVENÇÃO PARA A SAÚDE BUCAL DO IDOSO

 

Os idosos são a parte da população que está crescendo mais rapidamente no mundo. O aumento das necessidades de cuidados da parte odontológica dessa população constitui um verdadeiro desafio. É essencial que os profissionais tenham um conhecimento das verdadeiras necessidades dos cuidados da saúde bucal, e que adquiram esses conhecimentos e desejo de prover cuidados adequados para essa crescente e variada população.

Os idosos com dentes ou com próteses devem ser alertados que tanto as restaurações quanto as próteses feitas no passado, não são garantia de que no presente ou no futuro preservem indefinidamente a sua saúde bucal.

Educando os pacientes da necessidade de prevenção em sua saúde bucal, para evitar problemas futuros que provoquem uma diminuição de sua auto-estima e também problemas de saúde, serão obtidos resultados positivos.

Os profissionais da saúde deverão ser orientados também para avaliar nos exames iniciais, não só a saúde bucal do paciente, como também sua habilidade ou não para realizar uma higiene adequada. Ver as necessidades do paciente ajudará a eliminar conceitos errados das pessoas que ajudam a cuidar desses pacientes.

Em estudos feitos em idosos com próteses parciais removíveis, foi constatado que eles tinham menos cuidados com sua higiene bucal. Cáries de raiz e doenças periodontais eram mais freqüentes quando tanto as restaurações como as próteses removíveis eram defeituosas.

É importante o aproveitamento de métodos já existentes ou a criação de novos para garantir uma boa qualidade na odontologia geriátrica. Na prática deveriam ser identificados, na população, pessoas necessitadas de tratamento, e achar os recursos para resolver essas necessidades. O valor desses métodos será medido pela utilidade e pelos resultados obtidos na melhora do estado de saúde bucal.

É interessante saber que é possível obter o máximo de benefícios com um investimento  relativamente de  baixo custo e de fácil realização.

 

ESCOVOVÓDROMO – UM DESAFIO? 

  

Infelizmente, apesar da filosofia em odontologia ter avançado em relação ao paradigma curativo restaurador e atualmente priorizar a promoção à saúde bucal, observamos que as ações práticas nesta área ainda deixam a desejar,quando falamos em adultos e idosos. Comprovamos este fato pela discriminação por parte de alguns profissionais quando o projeto encontrava-se em fase de planejamento.Muitos disseram ser esta atividade somente ideal para crianças,e não para idosos.Mesmo assim  a idéia prosseguiu em diante.                       

 

COMO FAZER O escoVOVÓdromo?

Projetou-se um equipamento para facilitar a higienização personalizada ao idoso. O que se observa no dia a dia do consultório odontológico é que o idoso recebe orientação quando está sentado na cadeira odontológica ou em palestras na sala de espera.

Os índices de placa e acúmulo de tártaro mostram que estes métodos são pouco eficientes quando medem-se os índices de higiene oral de pacientes idosos.

Procurando melhorar a prática de higienização bucal  desenvolveu-se um EscoVOVÓdromo.

 

Muitos perguntam,o que significa esta palavra tão estranha?

·         Escova – ( do latim Scopa – utensílio para limpar, lustrar, etc., que consta de uma placa onde são inseridos, muito próximos, filamentos flexíveis de cerdas , fios sintéticos, etc.)

·         Escodromo – termo criado (no Brasil) a partir da palavra escova, e que significa lugar especial onde é realizada a escovação dentária controlada por profissionais.

·         Vovó – Bras. Fem. de Vovô. Avó, em linguagem infantil ou afetiva. A mãe do pai ou da mãe.

·         EscoVOVÓdromo – Termo criado ,neste projeto, para designar lugar físico especial onde será realizada a escovação dentária dos idosos, sob a orientação de profissionais especializados.

 

ESCOVOVÓDROMO – UM CENTRO DE EDUCAÇÃO E PREVENÇÃO

            

O Sistema Odontológico tradicional estabelecido no Brasil, baseado na ação curativa, não tem como prevenir nem tratar os danos causados pela placa bacteriana dental (cárie e doenças periodontais). A Previdência Social por si só foi responsável, em 1995, pela realização de 28 milhões de dentes extraídos.

A solução para esse problema está em boa parte, no estabelecimento de programas preventivos para idosos que envolvam motivação e educação sobre a saúde bucal, escovação orientada, uso de flúor para pacientes com dentes, métodos para prevenir doença gengival e periodontal, escovação adequada de próteses e língua, bem como a realização do auto-exame de boca.

O Escovovódromo nada mais é do que um Centro de Educação e Prevenção, onde o idoso recebe na prática, orientações e treina, de forma prática, métodos adequados de prevenção das doenças bucais para as quais têm risco. Nele ocorre o ordenamento especial das alternativas didáticas e instrumentais direcionadas ao ensino e treinamento adequados para a higiene bucal. Trata-se de um método simples, que associa diversos recursos didáticos, com a finalidade de melhorar as condições de saúde bucal dos idosos.

Para o controle efetivo da cárie dentária e da doença periodontal, a placa bacteriana deve ser ativamente removida a intervalos regulares. Apesar dos muitos avanços científicos verificados nesse campo, sem dúvida os agentes mecânicos – escova de dentes e fio ou fita dental – ainda são os melhores recursos no controle da placa. Somente alcançam este controle pessoas que tenham conhecimento sobre os problemas que as bactérias e fungos patogênicos podem causar na boca. As pessoas devem estar motivadas sobre adequadas técnicas de escovação e outros recursos capazes de realizar a higiene, enfim, uma educação odontológica compatível com a manutenção de um bom padrão de saúde dos tecidos da boca.

Por exemplo, as doenças periodontais são associadas à presença de placa bacteriana. A candidíase associa-se em geral  à prótese mal higienizadas que permitem a crescimento de um fungo, Candida albicans , que pode causar sintomas da doença em caso de desequilíbrio da flora bacteriana. Uma excelente higiene das próteses praticamente elimina a possibilidade de candidíase.

Sugestão de planta do EscoVOVÓdromo (desenho em anexo):

·         São necessário espelhos amplos, onde o idoso pode visualizar o seu rosto.

·         São necessárias pias com torneiras e balcão para apoiar escovas, próteses e materiais.

·         É importante haver divisórias entre as pias, para dar mais privacidade aos idosos e para que os idosos que usam próteses totais não se sintam envergonhados quando as tirarem da boca realizar a escovação.

·         Os idosos devem estar sentados em uma cadeira, pois as explicações levam de 5 a 10 minutos e é importante que o idoso não se canse.

·         Um armário para guardar materiais é opcional.

·         Uma lixeira (localizada abaixo e à direita da pia).

O escovódromo utilizado normalmente com as crianças,e que já existe em diversas Prefituras,poderá ser utilizado pelos idosos,desde que sejam feitas algumas adaptações básicas..

 

      – ESCOVOVÓDROMO EM FOZ DO IGUAÇU

 

Durante o I Congresso de Geriatria e Gerontologia do Mercosul, em Foz do |guaçu, foram realizadas paralelamente atividades comunitárias para 1.000 idosos. Houve atividades como, medição de pressão arterial, glicemia, colesterol, densitometria óssea, lanche com super-sopa. Escovovódromo (cuidados com saúde bucal) foi também incluído.

No primeiro dia o “Escovovódromo” foi erroneamente instalado no banheiro (fato que inviabilizou o uso).

Nos dois dias seguintes, ele foi transferido para a área externa, e o funcionamento foi muito interessante. Podemos afirmar que foi a atividade que mais chamou a atenção.

Cada idoso recebeu uma escova de dentes e o profissional C.D. (Cirurgião Dentista), T.H.D. (Técnico em Higiene Dental), ou A .C.D. (Auxiliar de Cirurgião Dentista) realizava, no próprio idoso, a higiene dos dentes ou da prótese mandibular, e após essa demonstração prática, repetia o mesmo procedimento na maxila (isto para o caso do paciente ser portador de 2 próteses totais, pois retirando uma prótese de cada vez, o paciente não se sentiria deformado).

Depois de demonstrar a higiene, escovando dentes, prótese, língua e bochechas, pedia-se ao idoso para repetir os movimentos. Como muitos idosos apresentavam certas dificuldades de coordenação motora, era necessário treinar repetidas vezes,e nas primeiras vezes é interessante que o profissional segure a mão do idoso que se encontra em frente ao espelho.

Algumas dificuldades surgiram:

a)Sentiu-se a necessidade de divisórias entre as pias, para dar mais privacidade ao trabalho (já que muitos idosos usam prótese total, superior e inferior).

b)Fez falta um balcão ou um apoio para apoiar as próteses e os materiais.No momento da escovação, ensinavamse que as próteses deviam ser escovadas sobre uma bacia ou recipiente, para no caso de escorregarem e caírem, elas não quebrarem.

Infelizmente por limitações econômicas, não houve recursos financeiros para adequar as instalações com divisórias para dar mais privacidade, nem tampouco foram compradas as bacias para escovação das próteses. Mesmo assim, optamos por realizar a experiência, que foi extremamente gratificante.

Passaram por este Escovovódromo 112 idosos. Nos deparamos com casos de extrema ignorância e pobreza. Houve um caso de uma senhora que não removia sua prótese parcial há 25 anos! Ela pensou que era um trabalho “fixo” e após nossa explicação percebeu o “porquê” de sentir dores e ardência na maxila, em especial o palato. Verificamos que o palato estava todo infeccionado por bactérias. Ela foi treinada para escovar a prótese e indicamos o uso de antibióticos.

Encontramos 12% de pacientes que apresentavam candidíase associada ao uso de próteses mal higienizadas.

Devido à precária situação econômica, muitos  idosos relataram que fizeram suas próteses não com cirurgião dentista, mas com práticos (que são profissionais não habilitados). Infelizmente, como estas próteses não teriam retenção por serem mal adaptadas, os práticos fazem uma cavidade no centro da prótese, chamada de “câmara de sucção”. Esta câmara cria uma pressão negativa sobre os tecidos do palato, aumentando a retenção e estimulando o crescimento de tecido mucoso do mesmo. Há autores que comentam que de 2 a 3 % destas lesões causadas por câmara de sucção podem evoluir para câncer.

Ficou evidente a necessidade de orientar, na prática, os idosos , que se sentiram motivados a cuidar com carinho de sua saúde bucal.

Também perguntava-se ao idoso se era fumante ou alcoolista. Aos que respondiam afirmativamente, eram explicados os malefícios desses hábitos para a saúde da boca.

Os idosos eram treinados na frente do espelho para fazer o auto-exame da boca mensalmente, visando detectar feridas ou alterações que não cicatrizem ou mesmo ver se seus tecidos da boca estão normais.

Mesmo não tendo as condições ideais de trabalho, esta ação mostrou ser extremamente estimulante, tanto para os idosos que aguardavam sua vez com uma senha numerada, na fila, sentados em cadeiras, quanto para os profissionais, que se sentiram emocionados e gratificados pela troca de vivências entre as diferentes gerações.Esta experiência motivou o desenvolvimento  de mais um piloto nesta área.

  

– ESCOVOVÓDROMO-AÇÃO GLOBAL – SESI/CURITIBA 

Anualmente a Rede Globo de Televisão realiza um dia de Ação Global, em conjunto com o SESI (Serviço Social da Indústria), em que são ofertados diversos serviços à população em geral: emissão de documentos, casamentos coletivos, atividades de saúde (medição de glicemia, colesterol, pressão arterial...).A coordenação do SESI/PR, tendo ouvido falar no “Escovovódromo”, contatou a Secretaria do Estado de Saúde do Paraná / Coordenação do Programa Estadual de Odontogeriatria para planejar este evento.

Decidiu-se que, por tratar-se de uma clientela diferente, os Cirurgiões- Dentistas, Técnicos em Higiene Dental e Auxiliares de Cirurgião- Dentista passariam por um treinamento teórico-prático. Afinal, esta equipe estava mais acostumada a lidar com crianças e adultos jovens.

Participaram deste treinamento 28 profissionais, e a parte prática foi feita com a colaboração de auxiliares de limpeza da Entidade, que fizeram o papel de pacientes. Este treinamento causou muito interesse por parte dos profissionais, pois conheceram uma nova realidade – a dos idosos – e perceberam que em pouco tempo passarão a fazer parte desse grupo também (se tiverem sorte...).

Como foram conseguidos recursos financeiros, foi possível  reformar uma  sala utilizada na escovação de crianças, e adaptá-la para trabalhar com a higiene bucal do idoso.

Como na experiência Piloto-1, realizada em Foz do Iguaçu, ficou patente a necessidade de haver divisórias entre as pias para dar maior privacidade  e um balcão de apoio, para colocar materiais. Conseguiu-se fazer esta reforma.

Também percebeu-se a necessidade de dar, além da escova, a pasta dental, uma bacia para escovar as próteses (evitando assim que estas se quebrem em casos de quedas acidentais), folhetos instrucionais e uma sacola plástica para guardar todos os objetos. Isto foi conseguido.

Participaram da atividade, que durou um dia, 132 idosos. Como estava frio, os idosos compareceram em horário mais próximo do meio-dia. A receptividade foi muito grande e a troca de experiências entre as gerações também. Em vez do idoso agradecer a atenção, quem agradecia eram os profissionais da Odontologia, que se sentiam gratificados e emocionados por poder compartilhar de experiências com pessoas tão vividas.

Os idosos reconheceram  que apesar de escovar as próteses e os dentes sozinhos, fariam isto com muito mais motivação e detalhamento. Perceberam também a importância de escovar dentes únicos, que seguram grandes próteses. Se estes dentes forem conservados, as próteses poderão durar muito mais anos.

A escovação da língua causou muita surpresa. Vários idosos que apresentavam camada ampla de saburra na língua, disseram que seus parentes se queixavam de que eles apresentavam mau hálito. Como já haviam ido à médicos por pensarem tratar-se de problemas de estômago e não haviam encontrado causa para a halitose, desistiram de tratá-la. Estes idosos ficaram felizes quando perceberam que a causa do mau hálito era algo tão simples de resolver, bastava escovar a língua! No início apresentavam um pouco de náuseas, pela posição da escova na parte posterior do dorso da língua, mas em seguida se acostumaram à sensação.

Percebemos nesta experiência com o Escovovódromo, a importância de explicar ao idoso noções básicas sobre manutenção da saúde bucal e as possibilidades do mesmo realizar o auto-cuidado em seu domicílio.

Ficou evidente a necessidade de ofertar próteses totais, parciais e unitárias a nível de Saúde Pública .Esses projetos desencadearam estudos para desenvolver projetos na área de prótese, através de convênio com Escolas de Prótese Dentária, Universidades de Odontologia / Disciplina de Prótese Dentária e Associação de Especialistas em Prótese.

 

 

POR QUE FAZER UM ESCOVOVÓDROMO (CENTRO DE EDUCAÇÃO E PREVENÇÃO PARA A SAÚDE DO IDOSO)? 

O idoso, quando chega ao ocaso de sua vida, percebe que o papel desempenhado pela boca é muito importante para a espécie humana e para ele em particular, pois é através da boca que expressa seus pensamentos, anseios, tristezas, alegrias ou dores. Também sua fome será saciada através da boca, e sabemos que saborear a comida é um dos prazeres que restam ao idoso. A cavidade bucal é tão importante, que não existe nenhum outro órgão que possa substituí-la na função genética de comer que ela possui.

A saúde bucal é uma parte muito importante da saúde geral, sendo esta um direito básico do homem. As doenças da boca, pela sua alta incidência, constituem um verdadeiro problema à saúde pública, pois provocam limitações em diversos níveis.

Tanto o Estado quanto o indivíduo foram responsabilizados pela saúde, mas na verdade, se bem o Estado dificulta ou facilita a obtenção da saúde, o indivíduo, na realidade, é responsável em levar uma vida em saúde.

Quando nos referimos particularmente à saúde bucal, vemos que há uma diferença marcante entre os indivíduos de maior poder aquisitivo, e os de baixa renda, pois estes últimos tem a sua saúde bucal muito deteriorada.

Interessante é assinalar que mesmo com medidas preventivas e de manutenção dessa saúde bucal, medidas relativamente de baixo custo e também bastante simples não estão sendo utilizadas na medida do possível. São utilizados mais programas curativos ao invés de preventivos. Foram realizados programas direcionados ao saneamento básico, com melhorias nas condições de higiene e nutrição, e que tiveram como conseqüência uma melhora nas condições de saúde.

Para promover a saúde, deveria ser criada uma política de Saúde Pública visando o fortalecimento da ação comunitária, procurando fazer com que a sociedade tenha um papel preponderante na promoção da saúde, criando programas apropriados.

Nas profissões de saúde, entre elas a Odontologia, é importante mudar a filosofia, que deverá ser reestruturada de tal forma que seja dada mais atenção à promoção da saúde ao invés de dar atenção à doença. A promoção da saúde deverá ser preventiva e não curativa. Nos idosos, a prevenção e controle de cáries, placa bacteriana e doença periodontal, que são as causas mais importantes da perda de elementos dentários, aliados a um conhecimento maior da fisiologia bucal, são um importante passo para a promoção de saúde bucal, com uma boca sem cáries, sem doença periodontal, sem placa, ou seja uma “boca limpa”, o que levará a uma boa estética, mastigação e fonação. Numa sociedade, quanto melhor for sua condição econômica, social e política, e quanto maior for o apoio que essa sociedade dá ao indivíduo, maior será o grau de saúde que ele apresentará. Por sua vez, o indivíduo deverá Ter autocontrole sobre sua saúde. Ele mesmo ou o Cuidador do idoso, deverão tomar os cuidados necessários para prevenir e cuidar mais, pelo menos primariamente, de sua própria saúde, mudando comportamentos em hábitos perniciosos.

O indivíduo será responsável, em primeira instância, pela sua própria saúde.

Com respeito ao profissional, este também deverá seguir algumas regras básicas para a promoção de saúde bucal: ele deverá encarar uma nova filosofia na prática de sua profissão, deverá Ter uma educação em saúde, ensinar a controlar a placa bacteriana, a controlar o consumo de açúcar, a acompanhar todas estas etapas, monitorando o paciente,

Para que a Odontologia entre para a fase da promoção de saúde, deverá ser promovida primeiro a promoção as saúde geral, pois a prevenção da saúde bucal depende da promoção da saúde geral.

Os dentistas devem se conscientizar de que eles não são meros profissionais reparadores das doenças da boca, mas que eles são verdadeiros agentes promotores e mantenedores da saúde bucal do idoso.

O tratamento curativo não devolve a saúde ao paciente, não evita a progressão da doença e é muito oneroso.

Devemos dirigir nossos esforços para que o paciente aprenda como evitar as doenças, e para que essa aprendizagem se torne um prazer.

Deve haver uma relação entre profissional e paciente de tal forma que o paciente entenda que a saúde é um bem de direito, e que esse bem está sob sua responsabilidade.

O paciente, sobretudo o idoso, se esforçará para mudar seus hábitos, se ele comprovar que o profissional se preocupa com ele. O profissional, por sua vez, deverá demonstrar interesse pelo paciente, pelo seu aprendizado.

Essa aprendizagem dos pacientes será mais fácil se os profissionais observarem alguns requisitos:

1.O paciente idoso compreenderá melhor uma linguagem mais simples, acompanhada de cartazes, modelos, espelhos, etc. que o possam ajudar a entender melhor.

2.Essa aprendizagem deverá ser ativa, ele deverá por em prática o que lhe foi ensinado, por exemplo, escovação, sempre na frente de um espelho e supervisionado pelo profissional, e deverão ser esclarecidas quaisquer dúvidas com respeito ao procedimento ensinado.

3.Deverá ser avaliada cada etapa, e dizer francamente se o paciente realizou a técnica de uma forma correta ou não. Repetir o procedimento até o paciente conseguir executá-lo corretamente.

4.Cada paciente idoso se comportará de uma forma diferente. Deverão ser avaliadas as habilidades ou as limitações de cada um.

5.O paciente idoso muitas vezes é um paciente mais difícil. Por isso deverá ser feita uma avaliação no momento do aprendizado, para ver se ele demonstra ou não interesse.

O paciente idoso deverá ser motivado pelo profissional. O profissional deverá demonstrar segurança, entusiasmo e interesse na sua tarefa, e deverá lembrar que por trás de cada boca existe um ser humano completo.

Motivar um paciente idoso não é fácil. Podem haver experiências anteriores negativas que façam essa tarefa mais difícil ainda, e será um desafio a mais que o profissional deverá vencer.

Mesmo sabendo que para ter uma saúde bucal boa, os dentes devem ser escovados diariamente, é com bastante freqüência que observamos que a higiene oral é bastante negligenciada, pois isso requer tempo e também habilidade, e muitas vezes o paciente idoso é impaciente ou tem algum problema motor (artrose, AVC, etc.) que lhe impede de realizar uma higiene adequada.

O profissional deverá ser muito cuidadoso para não ferir a suscetibilidade do paciente, e terá que avaliar as expectativas do mesmo em relação ao resultado que obterá do tratamento.

Para que esse resultado seja positivo, o profissional deverá ensinar de uma forma delicada e agradável.

O profissional deve deixar bem claro que a participação do paciente é fundamental para que o tratamento obtenha resultados positivos, e o paciente deve acreditar que seu cuidado ao realizar o que o profissional ensinou, levará a resultados realmente satisfatórios.

Em termos de Brasil, chegamos à conclusão de que é necessário utilizar meios eficazes e baratos que já existem, para tentar diminuir as doenças bucais. Infelizmente esses procedimentos não estão sendo utilizados na esfera coletiva, de uma maneira mais eficaz.

Devemos tentar reverter o quadro que mostra que uma porcentagem muito alta de idosos tem poucos dentes ou nenhum, sendo necessário o uso de próteses parciais ou totais, sobretudo na faixa acima de 60 anos.

Para que essa população idosa possa ser ajudada, a nível comunitário, contra esses fatores de riscos, é necessária a existência de uma ação conjunta entre os profissionais da área de saúde.

O idoso com boca sadia terá uma qualidade de vida melhor, e isso se refletirá em sua saúde geral. Dentes e gengivas sadias, próteses bem adaptadas darão ao idoso uma auto-estima maior, uma aparência boa e agradável, e também serão uma barreira contra a instalação de doenças infecciosas.

Quando o idoso alcançar essa meta, ele poderá VIVER EM SAÚDE.

Segundo disse Platão, falando da boca, “foi em virtude da necessidade do melhor, que nossos autores dotaram a boca de dentes, lábios e língua. Ali também foi disposta a entrada dos alimentos que corresponde à ordem da necessidade, e da saída das palavras, que correspondem à ordem do melhor. É, em verdade, pela ordem do necessário tudo o que entre pela boca para prover ao corpo seu alimento, e por outra parte, a fonte das palavras que brotam para fora em serviço ao espírito, é, de todas as fontes, a mais bonita e a melhor.

Por tudo o que expusemos, acreditamos que o Escovovódromo é uma prática de um modelo que privilegia a verdadeira promoção à saúde bucal.

   

 

 SAÚDE BUCAL NÃO TEM IDADE            

DESENVOLVIMENTO DE ATIVIDADES PREVENTIVAS DE SAÚDE BUCAL PARA IDOSOS

 

Para resolver os problemas bucais dos idosos, acreditamos que a remoção adequada da placa dental, que é causa das doenças bucais mais comuns, seja um grande desafio.

Por esta razão optamos por discutir as possibilidades de controle mecânico da placa dental realizado pelo paciente idoso.

A placa dental é uma placa constituída por bactérias , com consistência mole e aderente, e que se deposita continuamente sobre a superfície dos dentes, não sendo eliminadas através de bochechos com água, jatos fortes de ar nem através da mastigação. Através de meios mecânicos ou químicos, poderão ser tomadas medidas que terão como objetivo a remoção dessa placa, obtendo o que chamaremos de “controle de placa”. O controle mecânico da placa é realizado pelo próprio paciente por meios mecânicos. E o resultado da interação de diversos fatores, tais como: conhecimentos sobre etiologia, patogenia e tratamento/controle das doenças dentárias, motivação, instrução em higiene bucal, destreza manual e instrumentos apropriados. A higiene dos dentes realizada pelo paciente é parte fundamental dos autocuidados necessários para a manutenção da saúde bucal. Acredita-se que a maior parte dos cuidados de manutenção de saúde bucal possam ser realizados pelo próprio indivíduo. O autocuidado deverá ser estimulado por meio da educação em saúde, que favorecerá o controle de doenças crônicas dependentes do estilo de vida, como a cárie e as doenças periodontais; especialmente onde a assistência do setor público em tratamento é muito baixo. “Autocuidado é o conjunto de ações e decisões tomadas pelo próprio indivíduo, com a finalidade de prevenir, diagnosticar e tratar qualquer alteração de sua própria saúde. A promoção de autocuidados é uma das finalidades mais importantes no cuidado primário da saúde, e que levam a mudanças individuais de comportamento, tendo como alvo o estabelecimento de hábitos que propiciam a prevenção e o controle das doenças e a eliminação daqueles que que aumentam o risco às doenças. Esse processo tem como principal objetivo tornar o paciente responsável pela sua própria saúde, educando-o para desempenhar as funções que lhes cabem na promoção de saúde, como por exemplo o controle diário de placa. Assim a função mais importante exercida pelo dentista será a de educar para a saúde.

As doenças da cavidade bucal e seu conteúdo afetam indivíduos sem discriminar idades e classes sociais. Cárie e doenças periodontais são os problemas que aparecem com mais freqüência na cavidade bucal e são responsáveis por cerca de 90% da perda de dentes. A terapia curativa, que visava somente a reparação dos danos era a forma de tratamento utilizada na odontologia, mas esses procedimentos não eliminavam a necessidade de realização de tratamento, e também não reduzia a perda gradual dos elementos dentários. O controle das doenças através da reparação de seus danos é um procedimento justificável apenas quando o agente causal não pode ser identificado ou eliminado. Atualmente, contudo, a etiologia da cárie e de doenças periodontais já é bem conhecida.

A gengivite, bem como a periodontite e a cárie, são doenças infecciosas causadas por bactérias que se depositam nos dentes formando a placa bacteriana. A remoção da placa bacteriana nas fases iniciais da doença provoca a eliminação da gengivite.

O desconhecimento da etiologia e patogenia da cárie dentária fez com que, durante muitas décadas, seu tratamento fosse sinônimo de restauração de dentes com cavidades.

Prevenção era tradicionalmente vinculada a fluorterapia, aconselhamento de dieta e a controle de placa. O tratamento em si era direcionado a procedimentos operatórios. Essa diferenciação entre tratamento e prevenção era devido ao conceitode que um dente passava de hígido para cavitado sem nenhum estágio intermediário. Na última década, foi comprovado que a evolução dos sintomas da cárie abrange um leque complexo de alterações no esmalte dentário, desde a dissolução microscópica dos cristais individuais, até a lesão clinicamente detectável.

A higiene adequada dos dentes é a medida mais eficaz para o controle e tratamento das doenças dentárias, pois ela elimina a placa, fator que causa a doença.

A finalidade do controle mecânico da placa que o paciente realiza, não deve ser a eliminação total da placa, mas a obtenção de níveis de higiene capazes de prevenir o início e/ou desenvolvimento das doenças dentárias.

A eliminação adequada da placa deve ser realizada de uma forma regular e deve ser um dos alvos principais dos cuidados odontológicos que visam a manutenção e promoção de saúde bucal.

Para que o idoso seja educado para a saúde, ele deve adquirir novos hábitos de higiene bucal. Essa educação deve fazer parte da educação para a saúde geral. Assim teremos um paciente motivado e treinado. Pela educação para a saúde o profissional pode despertar no paciente o interesse de promover, manter a saúde e o controle das doenças dentárias.

A  motivação faz com que o paciente se conscientize de sua real condição de saúde bucal. O diagnóstico feito pelo C.D., em conjunto com  o paciente sobre os níveis de placa, gengivite, periodontite e cárie é essencial na determinação de suas necessidades bucais. Deverá ser feito o registro da história pessoal do paciente, seus hábitos de higiene bucal e de uso de tabaco e álcool, etc. e também o que o paciente espera do tratamento odontológico. É necessário detectar as necessidades não satisfeitas que na realidade são mais importantes para o paciente do que seus problemas dentais. Na primeira visita do idoso é importante deixá-lo falar bastante. Conhecer melhor o paciente, sua vontade de manter os dentes e outros desejos permite que o profissional se aproxime das necessidades e expectativas do paciente, permitindo assim a possibilidade de sucesso no tratamento futuro. Ao final da consulta, o dentista já tem meios de determinar qual a melhor forma de iniciar o processo de educação.

Depois que o paciente foi motivado para controlar as doenças dentárias, o profissional deve iniciar o processo de informação, que será breve, em linguagem clara. As informações devem ser dadas à medida que o interesse do paciente aumente. Conhecimentos básicos permitem ao indivíduo a assumir mais responsabilidades no controle de seus problemas de saúde.

O vocabulário a ser utilizado dependerá da idade e grau de instrução do paciente, para evitar a incompreensão dos conceitos que queremos passar.

No caso de asilos, a informação  pode ser  dada de forma coletiva.

Após os conhecimentos adquiridos sobre etiologia e tratamento das doenças dentárias, o paciente deve ser encorajado a participar do conhecimento do seu estado de saúde bucal, o diagnóstico de placa bacteriana e das doenças dentárias. Um espelho de aumento com luz e um espelho bucal auxiliarão bastante. É bom perguntar aos pacientes quais são, sob seu ponto de vista, as áreas ou dentes mais afetados por cáries e doenças periodontais. Depois de localizados os sintomas das doenças, o porquê da localização  e a natureza dos sintomas devem então ser discutidos. Entender a natureza das doenças que afetam os dentes e a conscientização sob seu estado de saúde bucal. Inclusive das áreas de maior acúmulo de placa e das de maior risco às doenças, pode capacitar o paciente a determinar quais seriam suas prioridades no controle da saúde bucal no auto-exame.

                        O paciente ou o cuidador de idosos estão agora aptos para determinar a freqüência e os meios com os quais deverá higienizar seus dentes. Pode-se então , começar a instrução em higiene bucal realizada de acordo com a localização da placa, gengivite, etc. O paciente é encorajado a utilizar os instrumentos de higiene escolhidos por ele, e a testá-los em sua própria boca.

É muito importante para o paciente sentir o resultado de seus esforços em curto período de tempo. Nos estágios iniciais de treinamento em higiene bucal, não devemos exigir demais do paciente, e direcionar seus esforços de higiene nos dentes e superfícies onde o risco às doenças for maior, tendo assim maior possibilidade de identificar os resultados positivos de seus esforços. Os idosos gostam de ser elogiados e comprovar que eles são capazes de realizar corretamente tarefas que lhes forem encomendadas..

O cirurgião dentista, para obter êxito na sua missão de educar o idoso para a saúde, deverá Ter uma conduta de interesse e apoio, nunca de autoridade. 

 

   

ESTABELECIMENTO DE NOVOS HÁBITOS – O MÉTODO ASSOCIATIVO 

Pacientes motivados, informados e instruídos, podem Ter dificuldade em aceitar a perpetuação de novos hábitos. A condição fundamental para o estabelecimento de novos hábitos de higiene bucal, é um paciente bem motivado, informado e instruído. Mesmo assim, o risco desses novos hábitos não serem aceitos totalmente pelo idoso é ainda muito grande. Uma solução, segundo o método associativo descrito por WEINSTEIN e GETZ, seria associar novas rotinas àqueles hábitos pré-existentes. O novo hábito deve ser executado sempre imediatamente antes daquele já utilizado anteriormente, uma vez que o risco de esquecer deste último é mínimo.                                            

A utilização da escova dental é freqüentemente confundida com a higiene dos dentes. Atualmente, a escovação é o único procedimento de higiene bucal realizado regularmente pela maioria. A escovação por si só não é sinônimo de higiene, pois sua capacidade em controlar a placa é restrita às superfícies livres dos dentes,não evita, por si só, a perda de dentes.

O uso freqüente da escova não é sinônimo de limpeza. Mais importante que a freqüência é a qualidade da higienização.

Apesar disso, muita importância é dada às técnicas de escovação, e inúmeras variações da escova tradicional surgiram no comércio. As fábricas de produtos de higiene bucal colocam no mercado uma enorme variação de escovas manuais duras, macias ou extra-macias, com cerdas retas, , alternados, curtas e etc. A cabeça pode ser oval, , retangularetc.. O cabo tem tamanhos diversos, podendo ser angulado, reto, rígido ou flexível.

As escovas elétricas são muito úteis para portadores de deficiências que limitam os movimentos. Recomenda-se o uso da escova unitufo, facilitando a higiene em áreas de maior retenção de placas e difícil acesso. A utilização   de dentifrícios é um costume universal e o torna um meio para uso do flúor. A diminuiçaão do número de cáries como consequência do uso de dentifrícios fluoretados foi divulgada e comprovada.

Resumindo, para controlar a placa bacteriana, o que realmente importa é a realização de uma escovação correta e eficiente, pois produtos adicionados ao dentifrício com esse fim, só ajudam no controle da placa se, repetindo, a escovação foi corretamente realizada

 

 

 


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