DOENÇAS DOS TRABALHADORES

 

DOENÇAS BUCAIS QUE APARECEM NOS TRABALHADORES

 

DOENÇAS VESÍCULO-BOLHOSAS

DOENÇA

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

CAUSA

TRATAMENTO

IMPORTÂNCIA

Herpes labial (infecções secundárias pelo vírus do herpes simples)

Múltiplas úlceras pequenas precedidas de vesículas; sintomas prodrômicos de prurido, ardência ou dor; mais comum no lábio; no interior da boca, no palato e na gengiva inserida; chamada de panarício herpético quando ocorre à volta da unha; usualmente são afetados adultos e adultos jovens; muito comum.

Vírus de herpes simples – representa reativação do vírus e não reinfecção; precipitada comumente pelo stresse, pela luz solar, pelo frio, pela baixa de resistência.

Sintomático; o único medicamento específico para vírus eficaz contra o herpes bucal é o aciclovir; tópico ou sistêmico.

Autolimitada; cicatriza em duas semanas sem deixar marca; risco ocupacional; lesões contagiosas durante a fase vesicular; o paciente deve ser avisado sobre a auto-inoculação.

DOENÇAS ULCERATIVAS

DOENÇA

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

CAUSA

TRATAMENTO

IMPORTÂNCIA

Ulceração aftosa recorrente AFTA – UAR

Úlceras dolorosas recorrentes encontradas na língua, na mucosa do vestíbulo, assoalho da boca e pilares das fauces; não são encontradas na pele, no vermelhão dos lábios, na gengiva inserida ou no palato duro; geralmente redondas ou ovais; as úlceras não são precedidas de vesículas; tipo menor – usualmente solitárias, com menos de 1cm de diâmetro, comuns; tipo maior – grave, cicatrizam em até 6 semanas, deixando marca; tipo herpetiforme – grupos de úlceras múltiplas recorrentes.

Desconhecida; provavelmente um defeito da imunidade mediada pelas células T; não são causadas por vírus; precipitadas pelo stress, traumatismos e outros fatores.

Sintomático; a maioria dos medicamentos contém ou esteróides ou tetraciclina. Medicamentos com Complexo B e Ferro melhoram o quadro.

Doença dolorosa, incômoda; raramente debilitante, exceto to tipo maior. A recorrência é a regra e a cura, uma exceção. É comum em trabalhadores que apresentam anemia (agrotóxicos, benzenos e manipulação inadequada de químicos predispõe à V.A.R.).

 

Reações a medicamentos

Podem afetar a pele ou a mucosa; podem ser observados eritema, vesículas, úlceras; história de ingestão recente de medicamentos é importante.

Potencialmente, qualquer medicamento, através da estimulação do sistema imunitário ou dos mastócitos.

Suspensão do agente causal; anti-histamínicos ou corticosteróides.

Reações, como a anafilaxia ou angioedema, podem exigir tratamento de emergência; o quadro clínico extremamente variável pode tornar o diagnóstico difícil.

Carcinoma basocelular

Úlcera que não cicatriza, com bordas endurecidas; usualmente na pele exposta ao sol; ocorre em geral nos lábios.

Exposição ao sol, uso de cigarro, cigarro de palha e charuto que agridem mecanicamente o lábio.

Cirurgia ou radiação.

As lesões são de crescimento lento e raramente dão metástases; as lesões tratadas precocemente, o prognóstico é excelente. Atenção especial a trabalhadores que se expõe à luz solar (agricultores, garis, jardineiros, marinheiros, pescadores).

Carcinoma espinocelular

Úlcera indolor, dura, de margens elevadas; encontrada na boca, na borda lateral da língua e no assoalho da boca; homens afetados com o dobro de freqüência das mulheres; o aspecto clínico também pode ser o de uma placa ou nódulo branco ou vermelho.

Tabaco; luz UV; álcool e irritação crônica são cancerígenos.

Cirurgia ou radiação.

O índice geral de sobrevida de 5 anos é de 45-50%; nas fases iniciais, o prognóstico é excelente em casos de metástases; para os linfonodos regionais, o prognóstico complica.

 

DOENÇAS BUCAIS QUE PREVALECEM NOS TRABALHADORES

 

LESÕES BRANCAS

DOENÇA

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

CAUSA

TRATAMENTO

IMPORTÂNCIA

Leucoedema

Afetados 50% de brancos e 90% de negros; opacificação uniforme bilateral da mucosa jugal.

Desconhecida.

Nenhum.

Permanece indefinidamente; nenhum efeito nocivo..

Hiperqueratose.

Placa branca, assintomática, comumente no bordo alveolar, na mucosa jugal e na língua; não se destaca pela raspagem, como acontece na candidíase.

Irritação crônica (fumo e prótese mal adaptadas).

Remover o irritante.

Regride, se a causa for eliminada. Fazer alerta anti-fumo ou ajustar/ desgastar a prótese.

Estomatite nicotínica.

Opacificação generalizada, assintomática do palato, com pontos vermelhos que representam orifícios das glândulas salivares; e palato esbranquiçado.

Calor e químicos associados à combustão do tabaco.

Realizar A.F.A. – Alerta Anti-Fumo.

Se a lesão não regredir em 6 semanas, encaminhar para referência.

Queilite solar.

Lábio inferior – epitélio atrófico, limite do vermelhão com a pele mal definido, zonas focais de ceratose; comum.

Luz UV (especialmente na faixa de 2.900 – 3.200 A) e envelhecimento.

Filtros solares (PABA), uso constante de hipoglós e bloqueadores solares, (óxido de zinco, dióxido de titânio), cirurgia nos casos graves.

Pode resultar em ulceração crônica ou carcinoma espinocelular. Dentista deve aconselhar paciente a se proteger do sol. Atenção especial aos trabalhadores que trabalham expostos à luz solar.

Leucoplasia idiopática.

Placa branca assintomática, não desaparece ao ser raspada; homens são afetados mais que as mulheres.

Pode estar associada com o uso do tabaco, álcool e trauma mecânico.

Biópsia, excisão.

Pode recorrer após a excisão; 6% tornam-se malignas.

Língua pilosa.

Alongamento das papilas filiformes; assintomática.

Desconhecida; pode aparecer após o uso de antibióticos ou corticóides.

Melhorar a higiene bucal; identificar os fatores adjuvantes.

Único inconveniente é que é esteticamente desagradável.

Língua geográfica.

Lesões brancas anulares, com centros vermelhos atróficos; o aspecto migra pelo dorso da língua; varia de intensidade e pode desaparecer espontaneamente; às vezes, dolorosa; comum.

Desconhecida.

Nenhum, tratamento sintomático para as lesões dolorosas.

Totalmente benigna; regressão depois de meses ou anos.

Líquen plano.

Em geral assintomático, exceto quando existem erosões; ocasionalmente. Existem lesões cutâneas representadas por pápulas pruriginosas; encontrado na meia idade; a mucosa jugal comumente é mais afetada, com lesões na forma de rede ou placa formadas por pápulas brancas, ocasionais na língua, na gengiva e no palato;

Precipitada pelo stress; é uma condição hiperimune mediada pelas células T. Verificar com lupa a mucosa bucal na presença de pápulas brancas.

Esteróides tópicos ou sistêmicos; é necessário o acompanhamento.

Pode regredir depois de muitos anos; o tratamento apenas controla a doença; a transformação maligna é ocasional.

 

 

 

LESÕES BRANCAS (continuação)

DOENÇA

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

CAUSA

TRATAMENTO

IMPORTÂNCIA

Candidose.

Placas elevadas (fungos), dolorosas, que podem ser raspadas, deixando uma superfície erosada, sangrante; associada com má higiene bucal, antibióticos sistêmicos, doenças sistêmicas (AIDS), enfraquecimento, resposta imune reduzida; a infecção crônica pode resultar em mucosa eritematosa sem colônias brancas evidente; muito comum.

Fungo oportunista – Candida albicans.

Bochecho com suspensão de nistatina.

Geralmente desaparece em 1 ou 2 semanas após o tratamento; alguns casos crônicos necessitam de tratamento prolongado.

Queimaduras mucosas.

Úlceras superficiais dolorosas cobertas por um exsudato fibrinoso com halo eritematoso; comuns.

Químicas (aspirina, fenol), calor, queimaduras por eletricidade

Remover a causa; tratamento sintomático.

Cicatrizam em dias ou semanas. Acometem em geral pessoas com dor de dente que colocaram um comprimido na mucosa como tentativa de aliviar a dor e acabaram queimando o tecido.

Grânulos de Fordyce.

Múltiplos pontos amarelos, planos ou elevados, assintomáticos, encontrados principalmente na mucosa jugal e nos lábios; observados na maioria dos pacientes; muitos consideram-nos como uma variação do normal.

Do desenvolvimento.

Nenhum; o diagnóstico das lesões é clínico e não devem ser biopsiadas.

Glândulas sebáceas ectópicas sem nenhuma importância.

 

Lipoma

Tumescência de cor amarela ou amarela-branca, bem circunscrita, de crescimento lento; assintomática, raro, neoplasma benigno de tecido adiposo; ocorre em qualquer área.

Desconhecida.

Excisão.

Na boca, parece ter potencial de crescimento limitado; depois da remoção, a recorrência não é esperada.

 

 

DOENÇAS BUCAIS QUE PODEM APARECER NOS TRABALHADORES

 

 

LESÕES VERMELHAS

DOENÇA

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

CAUSA

TRATAMENTO

IMPORTÂNCIA

Glossite romboidal mediana.

Elevação lobulada vermelha à frente das papilas circunvaladas, na linha mediana.

Causa congênita

Nenhum.

Nenhuma. Muitos desconhecem e fazem biópsia desta alteração de crescimento.

Eritroplasia.

Assintomática; placa vermelha "aveludada" encontrada geralmente no assoalho da boca ou na área retromolar, em adultos; observada em adultos de meia idade; as lesões  vermelhas podem apresentar focos de hiperceratose brancos (leucoplasia mosqueada).

Álcool, fumo ou irritação crônica.

Excisão.

A maioria (90%) é de carcinoma in situ ou carcinoma espinocelular invasivo.

Sarcoma de Kaposi.

Neoplasma maligno de capilares que aparece na AIDS; geralmente nas extremidades, mas pode ser bucal, especialmente no palato; nódulos castanho-avermelhados ou entre vermelhos e azuis; raro.

Associação viral.

Cirurgia, radiação, quimioterapia.

Solicitar exame HIV.

Língua geográfica.

Lesões anulares, brancas, com centro vermelho atrófico; as áreas brancas (ceratóticas) podem estar mal-desenvolvidas, deixando placas vermelhas no dorso da língua, às vezes dolorosa; comum.

Desconhecida.

Nenhum; tratamento assintomático..

Pouca importância, exceto quando dolorosa.

Deficiência da Vitamina B

 

 

Vermelhidão generalizada da língua devido à atrofia das papilas; pode ser dolorosa; pode apresentar queilite angular associada;

Deficiência do Complexo B.

Suplementos de Vitamina B.

Permanece até serem administrados níveis terapêuticos de Vitamina B.

Anemia perniciosa e ferropriva.

Pode resultar em vermelhidão generalizada da língua devido à atrofia das papilas; pode ser dolorosa; pode apresentar queilite angular; comumente as mulheres são mais afetadas do que os homens.

Algumas formas são adquiridas, outras são hereditárias.

Diagnóstico e tratamento do tipo específico de anemia.

Alguns tipos podem ameaçar a vida; as manifestações bucais desaparecem com o tratamento; atenção especial para trabalhadores que manipulam químicos.

Síndrome de ardência bucal.

Larga faixa de queixas bucais, geralmente sem quaisquer alterações teciduais visíveis, especialmente em mulheres de meia idade; incomum.

Multifatorial – deficiência de Vitamina B, anemias, xerostomia, indiopatica e candida.

Antifúngicos, esteróides, vitamina B, ferro; sintomático; necessárias empatia e explicação cuidadosa.

Pode persistir a despeito do tratamento.

Candidíase atrófica.

Palato hiperêmico, doloroso, sob dentadura; queilite angular; mucosa dolorosa, vermelha.

Infecção crônica pela Candida Albicans; são fatores predisponentes freqüentes má higiene bucal, dentadura mal adaptada.

Nistatina, instrução sobre boa higiene da prótese.

O desconforto pode impedir o uso da dentadura; não é alérgica nem pré-maligna.

 

 

 

LESÕES VERMELHAS  (continuação)

DOENÇA

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

CAUSA

TRATAMENTO

IMPORTÂNCIA

Granuloma piogênico.

Assintomático; tumescência vermelha composta com tecido de granulação; encontrado mais comumente na gengiva; origem no ligamento periodontal; pode estar ulcerado secundariamente; comum.

Traumatismo ou irritação crônica; tamanho modificado por alterações hormonais.

Excisão.

Recorre se removido incompletamente; diminui de tamanho se a causa for removida ou depois da gravidez; fazer bom controle de placa.

Granuloma de células gigantes periférico.

Assintomático; Tumescência vermelha da gengiva composta com tecido de granulação e células gigantes multinucleadas.

Traumatismo ou irritação crônica.

Excisão.

Se não for tratado, permanece indefinidamente; lesão recorre se removida incompletamente.

 

  

DOENÇAS BUCAIS QUE APARECEM NOS TRABALHADORES

 

PIGMENTAÇÃO DOS TECIDOS BUCAIS E PERIBUCAIS

DOENÇA

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

CAUSA

TRATAMENTO

IMPORTÂNCIA

Manchas melânicas – Pigmentação fisiológica.

Distribuição simétrica; não muda de intensidade; não altera a morfologia da superfície; acomete negros, descendentes de árabes e portugueses.

Atividade normal dos melanócitos.

Nenhum.

Nenhuma.

Pigmentação por metais pesados.

Linha negra ao longo da gengiva marginal devido à precipitação do metal.

Intoxicação pelos vapores de metal (chumbo bismuto, arsênico, mercúrio) durante exposição.

Tratar o problema sistêmico e ensinar higiene bucal.

A exposição pode afetar a saúde geral; a pigmentação da gengiva tem importância estética.

LESÕES VERRUCOSAS- PAPILARES

DOENÇA

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

CAUSA

TRATAMENTO

IMPORTÂNCIA

Hiperplasia Protética.

Lesão indolor, com crescimento tecidual devido à prótese. Usualmente vermelha devido à inflamação; comum.

Reação dos tecidos mole à prótese.

Excisão, confecção de nova prótese.

A lesão não é pré-maligna; pode mostrar regressão significativa, se o paciente deixar de usar a prótese, adaptar a antiga ou fazer uma nova.

Papiloma.

Nódulos nos lábios, língua, na mucosa jugal; assintomáticos.

Vírus do papiloma.

Excisão.

Pouca importância, pode ser incluída no futuro como lesão cancerizável ?

 

  

DOENÇAS BUCAIS QUE APARECEM NOS TRABALHADORES

 

 

TUMEFAÇÕES GENGIVAIS, DOS LÁBIOS E MUCOSA JUGAL

DOENÇA

CARACTERÍSTICAS CLÍNICAS

CAUSA

TRATAMENTO

IMPORTÂNCIA

Granuloma Piogênico

Nódulo vermelho, assintomático, encontrado principalmente na gengiva, mas pode ser encontrado em qualquer ponto da pele ou da mucosa onde ocorreu um traumatismo; comum.

Reação ao traumatismo ou à irritação crônica.

Excisão.

Pode recidivar, se removido incompletamente; geralmente não causa reabsorção óssea.

Granuloma de células gigantes periférico.

Nódulo vermelho da gengiva, assintomático; clinicamente, não pode ser separado do granuloma piogênico; incomum.

Reação ao traumatismo ou à irritação crônica.

Excisão.

Comportamento totalmente benigno; diferente de sua contraparte central; a recorrência não é prevista.

Fibroma periférico.

Tumescência firme; coloração igual à do tecido circunjacente; assintomático; pode ser pedunculado ou séssil.

Reação ao traumatismo ou à irritação crônica

Excisão.

Representa um processo reparador exuberante com proliferação da cicatriz; a recorrência não é prevista.

Exostose.

Nódulo ósseo, duro, coberto por mucosa intacta, aderido ao lado vestibular do osso alveolar; assintomática; comum; aparece geralmente na vida adulta.

Desconhecida.

Nenhum; pode ser necessária a remoção, no caso de confecção de dentadura.

Sem importância, exceto no caso de confecção de dentadura.

Hiperplasia gengival generalizada.

 

 

Aumento firme da massa da gengiva livre e inserida; geralmente assintomática; pseudobolsas; o tipo inespecífico é comum, outros (induzida pelo Dilantin, modificada por hormônios, induzida pela leucemia, influenciada geneticamente) são incomuns ou raros.

Irritantes locais das gengivas, ou sistêmicos pelo Dilantin; desequilíbrio hormonal, leucemia ou fatores hereditários.

 Melhorar a higiene bucal, profilaxia, gengivoplastia.

Problema estético, bem como higiênico; os fatores causais devem ser eliminados, quando possível; a melhora pode ser obtida pelo controle dos fatores locaIS.

Fibroma traumático.

Nódulo firme, assintomático, coberto por epitélio, a menos que seja traumatizado secundariamente; encontrado usualmente ao longo da linha de oclusão da mucosa jugal e do lábio inferior; comum.

Reação a traumatismo ou à irritação crônica.

Excisão.

Representa cicatriz hiperplásica; potencial de crescimento limitado, não sendo observada transformação maligna.

 

Torus.

Tumefação do palato duro, assintomática, óssea (toro palatino) crescimentos exofíticos, ósseos, ao longo do lado lingual da mandíbula (toro mandibular); crescimento tórpido; adultos jovens e adultos.

Desconhecida.

Nenhum; pode ser excisado por necessidade protética.

Sem importância; não deve ser confundido com outras lesões palatinas.

Abcesso palatino proveniente de lesão periapical.

Tumescência dolorosa, contendo pus, flutuante, no palato duro; coloração igual ou mais vermelha que a do tecido circunjacente; associada a um dente necrosado.

Extensão de abcesso periapical através do osso palatino; comum no incisivo lateral superior.

Incisão e drenagem; tratar o dente endodonticamente, podem ser necessários antibióticos.

O pus pode espalhar-se para outras áreas, buscando a via de menor resistência.

 

 

DOENÇAS OCUPACIONAIS EM ODONTOLOGIA

 

 

Infelizmente há uma séria escassez de trabalhos nesta área no Brasil. Na verdade não se sabe com precisão quais são as doenças ocupacionais que causam alterações bucais.

Por exemplo,  quando Ramirez e Tapia 12 analisam o quadro clínico do saturnismo na indústria metalúrgica, perguntamos: " Alguém examinou a boca dos indivíduos afetados". A mesma pergunta podemos fazer quando analisamos um trabalho de  MATUO6 e cols sobre os efeitos dos resíduos de DDT no soro sangüíneo de trabalhadores da laranja, ou mesmo sobre o benzenismo no Complexo Petroquímico de Camaçari e ainda a exposição ocupacional do arsênico na indústria metalúrgica do cobre.

Recebemos diversos pedidos nos DRs visitados para que o DN funcione como apoio técnico-científico no sentido de realizar uma investigação metodológica sobre alterações bucais ocupacionais quando forem levantados focos de suspeita.

Por exemplo, Rio de Janeiro citou que os profissionais que trabalham na Petrobrás / Bacia de Campos / Plataforma tem o ritmo circadiano alterado, porque ficam 15 dias na plataforma e 15 dias fora dela. Isto parece afetar a saúde periodontal desses trabalhadores, segundo relato de C. Dentistas. Seria interessante que o  suporte científico metodológico a este tipo de pesquisa.       Criar-se-ia então um banco de dados sobre a influência do trabalho nas condições bucais do trabalhador.

Sabemos pela experiência clínica que trabalhadores que manipulam agrotóxicos podem apresentar freqüência maior de ulcerações aftosas recorrentes do que a população em geral. Faltam ainda pesquisas comprobatórias nesta área.

Outra citação freqüente é de que trabalhadores da indústria de doces, confeitos e guloseimas apresentam maior [índice de cáries de colo do que a população em geral. Dentistas que trabalham em metalúrgicas comentam sobre alterações periodontais em trabalhadores de fornos de altas temperaturas. Há necessidade de maiores pesquisas nesta área.

No caso da Odontologia, durante o IV Congresso Brasileiro de Câncer Bucal foi apresentado trabalho que analisava alterações teciduais em lábio, existentes em funcionários da Eletropaulo decorrentes da desidratação eólica a que se expõe.

O câncer bucal mais especificamente o de lábio, pode ser considerado uma doença profissional. Os profissionais que trabalham expostos à luz solar sem proteção adequada podem tornar-se portadores do carcinoma baso-celular. Trabalho foi realizado no distrito de Graciosa – PR, em que funcionários de uma cooperativa que produz farinha de mandioca apresentam alta incidência de queilite solar (lesão cancerizável). Garis, jardineiros, pescadores, agricultores, marinheiros devem ser orientados para proteger-se deste risco.

Interessante que é comum a suspeita de lesão cancerizável ser realizada por Cirurgião-Dentista, já que estas lesões são indolores e não fazem o trabalhador dirigir-se ao médico em busca de um diagnóstico.  

A prevalência de lábios ressecados e rachados em operários que trabalham nos consertos de rede elétrica, asfaltadores de estradas, garis, etc. 

Foi comprovado que existem alguns fatores fora a exposição ao sol, tempo quente e pouca umidade, que provocam a aparição de lábios rachados 15. Foram associados com a presença de herpes labial recorrente, e pele clara. Protetores labiais só foram eficazes no caso do herpes.

Lábios rachados (xeroqueilosis), é a excessiva secura da borda vermelha dos lábios, e é manifestada por escaldaduras, rachaduras e eritema. A falta relativa de queratina e de estruturas glandulares deixa a borda vermelha do lábio muito susceptível para rachar quando a umidade relativa baixa a menos de 30%. Mesmo que os lábios não sejam pele, senão mucosa modificada, as mesmas causas e mecanismos podem ser aplicados para ambos. Não é um problema sério do ponto de vista médico, mas causa desconforto ao trabalhador.

A porção mais profunda do estrato córneo, que tem um contato direto com o epitélio saturado de água, está sempre bem hidratado, considerando que a porção superficial está seca porque está exposta ao ambiente externo.

Quando o volume de água que vem de baixo do estrato córneo, fica em quantidade deficiente comparando com o volume de perda da superfície, a borda vermelha do lábio fica seca e racha. O mecanismo principal na retenção de umidade e flexibilidade da pele é a produção de sebo. O sebo é hidrófilo, atua como um reservatório de água, ajudando na absorção da água, é lubrificante, dando proteção à agressões químicas, físicas e bacterianas.

Classicamente, se acreditava que a diminuição de atividade das glândulas sebáceas que acompanhavam a velhice e desidratação do estrato córneo era responsável pela secura da pele. Estudos recentes comprovaram que a produção de sebo diminui com a idade, mas há diferenças extremas entre a produção de sebo na população idosa.

Com o aumento da idade, variações de estações, aumento à exposição ao sol e alguns medicamentos, estão associados com a incidência de pele seca, mesmo a qualidade e volume do sebo produzido parecem não estar associados com o aumento de incidência de pele seca.

Aceita-se que lábios e pele são similares, e que os fatores de risco para "rachaduras" serão os mesmos para ambos os tecidos. Fatores co-relacionados de risco, com certeza, incluem raça (diminuição da quantidade de melanina), exposição ao sol, calor, hereditariedade (autossômico dominante).

 

Classificação15 :

1)     Severa – rachaduras, sangramentos.

2)     Moderada – secura, descamação sem rachaduras, aspereza.

 

A consulta odontológica é uma excelente oportunidade para que seja feito um diagnóstico precoce de câncer de lábio. Além disso, orientar para a proteção da luz solar os trabalhadores que apresentam lesões cancerizáveis no lábio ou que tem a pele muito clara e se expõe ao sol é outra tarefa básica do Cirurgião Dentista.

Com relação às doenças psicossomáticas, MENDES, R no capítulo 12 de seu livro, Patologia do Trabalho, afirma que é muito difícil classificar uma doença psicossomática como ocupacional.

Por outro lado, Denise Monetti, psicóloga da Fundacentro, chama a atenção para o problema do sofrimento mental sentido por trabalhadores. Ela analisou operários da  refinaria Henrique Lange em São José dos Campos e concluiu que o medo pode aumentar os riscos de acidente. O medo é causado pelo risco de incêndios e explosões que podem ser causados pelo vazamento de substâncias químicas.

Sabemos que dificuldades de relações interproximais, perda de autonomia profissional podem causar ansiedade.

Turnos alternados parecem alterar o ciclo circadiano por uma alteração do relógio interno e até as relações sociais e familiares se prejudicam.

Recentemente discutiu-se o fato de que:

·         76% dos monitores da FEBEM sofrem de problemas psicossomáticos causados por situações de extremo stress no trabalho ( fonte: TV  -  Jornal Nacional  -  11/10/99)

 

 

 

Fatores Causadores do Stress

 

a)     trabalhar sob pressão constante

b)     Períodos longos de trabalho sem (pequenos) intervalos de descanso

c)      Procurar tarefas extras em demasia

d)     Natureza repetitiva do trabalho

e)     Sentir-se isolado

f)       Não ganhar o suficiente para suprir as necessidades

g)     Não alcançar as expectativas desejadas ou necessárias

h)     Problemas com colegas

i)        Problemas relacionados com a chefia ou subalternos

j)        Condições insatisfatórias de trabalho

k)      Possibilidade de cometer erros e não estar à altura do seu cargo

l)        Medo do desemprego

 

Com relação à boca, há algumas doenças cuja etiologia está fortemente associada ao STRESS17

Todas essas doenças incidem na faixa etária do trabalhador.


 

 

Manifestações bucais de envenenamento por metais

 

Muitos sais metálicos atuam como venenos sistêmicos. Os mais importantes dentre eles são o arsênico, chumbo, bismuto, mercúrio, prata e fósforo. Hoje em dia devido ao uso de medidas de proteção são raros os casos de intoxicação sistêmica.

Arsênico. As lesões bucais no envenenamento por arsênico consistem de gengivite e estomatite. Os demais aspectos clínicos incluem vômito, diarréia, hiperqueratose, hiperpigmentação e distúrbios neurológicos.

Chumbo. O envenenamento por chumbo se manifesta na boca sob a forma de salivação abundante, gosto metálico, tumefação das glândulas salivares, e uma linha escura (linha de chumbo) ao longo da margem gengival. Microscopicamente, a linha de chumbo consiste de um depósito de pigmento granular nas áreas perivasculares da submucosa e na membrana basal. Este pigmento é sulfeto de chumbo. A presença da linha de chumbo é especialmente pronunciada naqueles pacientes com má higiene bucal.

Bismuto. O envenenamento por bismuto era comum quando se utilizava este metal no tratamento da sífilis. As manifestações bucais consistem de sabor metálico, sensação de queimação na mucosa bucal e da linha bismútica que é semelhante à linha de chumbo e ocorre ao longo da gengiva marginal dos pacientes com higiene bucal deficiente. Em alguns casos, outras áreas da mucosa bucal podem exibir manchas pigmentadas.

Microscopicamente, depósitos de um pigmento granuloso e negro (sulfeto de bismuto) são vistos na submucosa. Acreditamos que o sal de bismuto reage com o sulfeto de hidrogênio, que é produzido pela degradação dos restos alimentares presentes na boca e produz o sulfeto de bismuto que, por sua vez, se deposita como um precipitado insolúvel.

Mercúrio. O envenenamento agudo ou crônico com mercúrio metálico causa distúrbios no sistema nervoso central (tremores e instabilidade emocional) e no trato gastrintestinal. As manifestações bucais consistem em aumento da salivação, estomatite e glossite, tumefação das glândulas salivares e, algumas vezes, uma linha escura na gengiva que é semelhante à que se vê no envenenamento por bismuto.

Prata. O contato prolongado com compostos orgânicos ou Inorgânicos de prata, produz  argiria. A pele e a membrana mucosa bucal adquirem uma tonalidade acinzentada. Os cortes microscópicos mostram um depósito de um pigmento negro, granuloso e fino no tecido conjuntivo subepitelial. Os grânulos representam um albuminato  de prata insolúvel e dão, aos tecidos, uma pigmentação permanente.

Fósforo. O envenenamento crônico segue-se à inalação prolongada de compostos de fósforo e a sua manifestação  bucal mais evidente é uma osteomielite persistente e progressiva da maxila e da mandíbula.

 

 

 

Erosão Dental Industrial3 – Trabalhadores com erosão dental provocada pela exposição à vapores ácidos

 

A erosão dental pode ser definida como uma perda de tecido duro do dente, causada por um processo químico no qual não há presença bacteriana.

A erosão é freqüentemente o resultado de uma exposição constante das superfícies dentárias a ácidos, os quais podem ser de uma fonte alimentar como comidas e bebidas ácidas, alguns medicamentos, regurgitação gástrica, ou o meio ambiente industrial onde os trabalhadores estão expostos a vapores ou névoas ácidas.

A erosão industrial está caracterizada pela perda de tecido dentário na parte vestibular e incisal dos dentes anteriores.

Muitas ocupações foram associadas com a erosão dental, entre elas a fabricação  de munições, bebidas, assopradores de vidro, limpadores sanitários, baterias, etc.

Há relatos2 de colocadores de pisos com queixa de sensibilidade nos dentes anteriores superiores. Ao exame clínico apareceu perda de tecido dentário, especialmente nas superfícies palatinas dos dentes superiores anteriores. O paciente relatou que trabalhou durante  25 anos aplicando resina em pisos, e o trabalho era realizado com a cabeça inclinada para baixo enquanto colocava a substância para realizar a aplicação, então os vapores ácidos entravam diretamente na sua boca. Este é um caso interessante de erosão em colocadores de pisos.

Prevenção – A prevenção mais eficaz de erosão provocada por vapores ácidos é o isolamento do dente ao agente causador. Há varias medidas que podem ser tomadas. A área da industria onde o vapor ácido é produzido deve ser declarada uma zona de respiração especial. Isto significa que o uso de máscaras especiais contra gases deve ser obrigatória. Elas tem a vantagem de cobrir boca e nariz, mas são desconfortáveis no calor e volumosas. Apesar dessas desvantagens, elas parecem ser o único método efetivo para prevenir a erosão dental e a perfuração do septo nasal.

Por isso o uso desse tipo de máscara deveria ser recomendado.

Protetores bucais também são recomendados como um método eficaz para isolar os dentes dos vapores ácidos, e deverão ser usados sempre durante o trabalho nesses locais da indústria onde há vapores ou poeira ácidas. A desvantagem deste método é que ele só protege os dentes e não o septo nasal.

O uso de máscaras simples não demonstrou ser uma medida muito eficiente, pois os trabalhadores geralmente a usam por baixo do nariz, cobrindo só a boca, e assim protegem o dentes mas não o septo nasal.

Após a exposição aos ácidos, é recomendado o uso imediato de bochechos de bicarbonato de sódio, ou mesmo com água.

Os trabalhadores deverão utilizar na sua higiene diária pastas com flúor, escova macia, bochechos com flúor, ou acrescentar flúor ao leite que é fornecido para eles na fábrica ou indústria.

 

 

Acidentes Faciais Causadores de Trauma Facial

 

Este tipo de trauma é causado geralmente por objetos das próprias máquinas que quebram e suas partes quebradas atingem o trabalhador, causando ferimentos cortantes ou com esmagamento de partes duras14.

Instrumentos elétricos que utilizam discos de carborundum, podem quebrar, desintegrando esse disco em pedaços, que atingiriam o funcionário especialmente na sua face e pescoço.

A mandíbula, o tecido mole do queixo, estruturas como língua, assoalho da boca, dentes, lábios, etc., resultam geralmente atingidas, em graus diferentes, e geralmente resultam em feridas grosseiras e contaminadas dos tecidos moles e ossos, sendo necessário limpar e retirar, como nos casos do disco de carborundum, as pequenas partículas do mesmo.

Por isso, máquinas elétricas deverão ser utilizadas sempre de acordo com as instruções e adotando medidas de segurança – como capacetes protetores.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

1-     AGOSTINETTO, D. et al. Avaliação dos Métodos de Aplicação de Agrotóxicos e Equipamentos de Proteção Individual Utilizados pelos Produtores de Batata do Município de Pelotas. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional; jun, 1998; n.º 91/92, vol.24, p. 67-74.

2-     BURKE, F. J. Occupational Dental Disease. Letter. Br Dent J,1997; vol 183, n.º 8, oct, p.276.

3-     COHEN, T.L. et al. Industrial Dental Erosion – a case report journal of the Dental Association of South Africa. 51, october, 1996; p. 647-650.

4-     CHAUDHRY, S.J. et al. Dental Erosion in a Wine Merchant: an occupational hazard? Br Dent J, 1997; 182: p.226-228.

5-     KILLEY,H.C. Fractures of the Mandible . Bristol: Wright, 1974.

6-     MATUO, Y.K. Resíduos de DDT no Soro Sangüíneo de um Grupo de Trabalhadores da Cultura da Laranja do Município de Bebedouro – SP. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, dez, 1997; n.º 89/90, vol.24, p.61-70.

7-     MENDES, R. Patologia do Trabalho.

8-     MIRANDA, C.R. Benzenismo no Complexo Petroquímico de Camaçari – Bahia. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, dez, 1997;  n.º 89, vol 24, p.87-92.

9-     MONETTI, D. Doenças Psicossomáticas Preocupam Especialistas. Revista Proteção, nov 98; p.26.

10- PAYNE, I.F. et al The Prevalence of Enviromentally Induced Lip Pathology Among Active Dirty Soldiers. Milit Med, 181; 146: 186-8.

11- PUKKALA, E. et al cancers of the Lips and Oropharynx in Different Social and Occupational Groups in Finland. Oral Oncol Eur J Cancer, vol.30B, 1994; n.º 3, pp. 209-215

12- RAMIREZ, A.V.; TAPIA, G.N. Cuadro Clinco del Daturnismo en la Industria Metalurgica de la Altura. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, jun 1998; n.º 91-92, vol. 24, p.85-94.

13- RAMIREZ A.V.; CASTILLO, C.E. Exposición Ocupacional al Arsenico en la Industria del Cobre. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, set 1997; n.º 85/86, vol. 23, p. 21-30

14- SHALLOUB, S.Y. An Overview of Industrial Accidents with Particular Reference to Facial Trauma. Australian Dental Journal, 1991; 36(6) 445-50.

15- SHULMAN, J.; LEWIS C. The Prevalence of Chapped Lips during an Army Hot Weather Exercise. Military Medicine, 162, 12: 817, 1997.

16- SKOGEDAL, O. et al. Pilot Study on Dental Erosion in a Norqeigian Electrolytic Zinc Factory. Community Dentistry and Oral Epidemiology, 5, 248-251.

17- TOMMASI, A.F. Diagnóstico em Patologia Bucal. Ed. Artes Médicas, 1986; 572 p.

 

 

 


criação: webx